Militantes sem-terra invadem fazenda produtiva em Goiás
A propriedade, localizada no município de Maurilândia, foi invadida por aproximadamente 50 pessoas

Aproximadamente 50 militantes sem-terra invadiram, no domingo 2, a Fazenda Boa Esperança Cabeleira, no município de Maurilândia, no sul de Goiás. A propriedade, administrada pelo Grupo Franco Ribeiro Andrade, é produtiva e está com a documentação regularizada.
Os sem-terra agiram no domingo em razão das eleições, visto que o contingente da Polícia Militar (PM) estava destacado para cobrir o pleito. As vítimas da invasão registraram Boletim de Ocorrência (BO) e aguardam por uma ordem judicial para remover os invasores.
A fazenda produz cana-de-açúcar, soja e milho. Além disso, trabalha com ciclo completo de pecuária, incluindo cria, recria e engorda.
“Meu avô é proprietário dela há mais de 65 anos”, disse o advogado Arthur Vanette, representante dos donos da fazenda. “Nunca tivemos nenhum problema. Estamos nos sentindo impotentes e inseguros, porque você acredita ser dono de uma propriedade e, de repente, alguém invade suas terras.”
Segundo Vanette, os invasores disseram não ter relação com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Não recebemos nenhum comunicado oficial, nem nota”, explicou. “Não podemos afirmar com 100% de certeza que se trata do pessoal do MST.”
Os invasores dizem representar os herdeiros de uma família que seria proprietária da fazenda. No entanto, não teriam conseguido demarcar com precisão a suposta área à qual teriam direito. Esse tipo de ocupação exige que os herdeiros consigam uma ação judicial — o que não ocorreu.
O MST agoniza
Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), 11 invasões de fazendas foram registradas no país no ano passado. Em 2020, foram apenas seis. No ano anterior, sete. Trata-se dos menores números verificados desde 1995, quando o Incra passou a organizar as estatísticas.
Nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), os sem-terra invadiram quase 2.500 fazendas. A administração de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) registrou cerca de 2.000 invasões. Na era Dilma Rousseff (PT), por sua vez, houve menos de 1.000 crimes dessa natureza. Os números mostram que o atual governo, liderado por Jair Bolsonaro (PL), apresenta um desempenho melhor até mesmo que o verificado na gestão de Michel Temer (MDB), que durou de agosto de 2016 a dezembro de 2018: foram 54 invasões durante o tempo em que o emedebista esteve à frente do Palácio do Planalto, enquanto nos últimos quase quatro anos elas não passaram de 15.
Nem tudo são flores
Apesar de as políticas do Executivo terem praticamente neutralizado as investidas do MST, algumas armadilhas da legislação brasileira permitem que os militantes continuem a praticar delitos.
Jairo dos Santos Pereira, um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em Minas Gerais, o principal tentáculo urbano do MST, foi solto na quarta-feira 18, depois de ficar apenas cinco horas detido na Delegacia de Plantão da Polícia Civil. Ele havia sido preso por liderar a invasão de um imóvel no município de Montes Claros, localizado a 330 quilômetros de Belo Horizonte.
Segundo a Polícia Militar, responsável pela prisão do militante, aproximadamente 15 pessoas estavam no terreno indevidamente ocupado. Os policiais informaram Pereira que invadir propriedade privada é ilegal e constitui um “crime de esbulho possessório” — privar alguém de exercer a posse de um imóvel legítimo. O coordenador do MTST resistiu à abordagem e afirmou que não deixaria o terreno. Acabou preso.
“Esse pessoal é bem orientado”, disse Aline Bastos (PL), advogada e pré-candidata a deputada federal, que prestou assessoria jurídica a Halex Athayde, proprietário do terreno invadido pelos sem-teto em Montes Claros. “Eles conseguem recrutar crianças, grávidas e deficientes mentais.” A tática é sempre a mesma: o MTST alicia os pobres e miseráveis e lhes promete uma casa própria. Sem alternativas, as pessoas carentes aceitam a oferta.
Marilena de Souza é uma das aliciadas. Ela foi cooptada pelos coordenadores estaduais do movimento, mas não sabia que a proposta envolvia a invasão de uma propriedade privada. “Eles disseram que haviam recebido um terreno”, explicou. “Trabalho como faxineira três dias por semana, com salário diário de R$ 100. Como não iria me interessar pela oferta?”
Carlos Marques também participou da invasão. Ele disse que aceitou a proposta porque queria deixar de pagar aluguel. “Os coordenadores nos prometeram um terreno próprio”, revelou. Além de moradia, o MTST ofereceu um punhado de arroz e feijão àqueles que topassem ocupar a propriedade de Athayde.
Dezenas de cooptados preferiram não se manifestar publicamente, por medo de retaliação. Os entrevistados tiveram seus nomes alterados.
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