MÊS DA CONSCIENTIZAÇÃO – Com 6 feminicídios, Agosto Lilás é o mês mais letal para mulheres – veja
Rompimento de relação amorosa aparece como o principal motivo para os crimes passionais contra a mulher

Escolhido como o mês de conscientização contra a violência doméstica, agosto registrou números elevados de feminicídios em Mato Grosso. Segundo dados da Diretoria de Inteligência da Polícia Civil, neste período, pelo menos seis mulheres foram mortas em razão do seu gênero. Dos primeiros oito meses do ano, agosto foi o mais letal de 2023 e chamou a atenção a brutalidade dos crimes – veja quadro sobre feminicídios.
“A violência contra as mulheres e o seu ápice, os feminicídios, são fruto do patriarcalismo e do machismo estrutural, o que é visível através da cultura do estupro perpetrada na sociedade”
Rosana Leite

A campanha “Agosto Lilás” nasceu em 2016 para comemorar os 10 anos da Lei Maria da Penha. Reunindo parceiros governamentais e não-governamentais, a ação prevê ações de mobilização e prevenção à violência doméstica e familiar contra a mulher. Para a defensora pública e coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher em Cuiabá, Rosana Leite, as estatísticas são um reflexo direto do desrespeito contínuo e sistemático às mulheres.
“Penso que esses números estão a refletir a forma como as mulheres estão sendo desrespeitadas em Mato Grosso e no Brasil. A violência contra as mulheres e o seu ápice, os feminicídios, são fruto do patriarcalismo e do machismo estrutural, o que é visível através da cultura do estupro perpetrada na sociedade. Sim, tem sido risco para as mulheres a condição de gênero”, disse a defensora.
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Dentre as motivações dos crimes estão: o rompimento de uma relação amorosa; por não aceitarem retomar relação afetiva; ou apenas por serem mulheres. O segundo mês com mais crimes dessa modalidade foi janeiro, quando cinco casos foram registrados.
No último dia de agosto, Silvana Campelo da Silva Teixeira, de 16 anos, foi assassinada com um tiro na cabeça em uma residência em São José dos Quatro Marcos (330 km de Cuiabá) e também pode entrar para a cruel estatística. O companheiro dela foi detido suspeito de ter cometido o crime. Apesar de todos os indícios, é necessário aguardar o fim do inquérito policial (IP) para saber a real motivação do assassinato. Caso seja confirmada, o número de feminicídios em agosto vai subir para sete.
Rodinei Crescêncio/Arte
Maio é o terceiro mês com mais femicídios, quando foram registrados quatro. Março foram três. Já em fevereiro, abril e junho houve registro de dois casos em cada mês. Julho foi o único período em que não teve nenhum feminicídio em Mato Grosso. Por outro lado, nove mulheres foram assassinadas com motivações diversas.
Diante dos números da Polícia Civil e da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), é possível afirmar que, até agora, Mato Grosso registrou 24 feminicídios – sem contar com a morte de Silvana – nos primeiros oito meses do ano. Se levarmos em consideração apenas de janeiro a julho foram 18. O número é 33% menor em relação a 2022 quando 27 casos nesse período foram registrados.
Mortes brutais
Um dos casos que mais trouxe repulsa à sociedade foi o da advogada Cristiane Castrillon da Fonseca Tirloni, 48 anos, tamanha a brutalidade com que ela foi assassinada no dia 13 de agosto. A vítima foi estuprada e morta asfixiada, segundo as investigações, por um homem que acabara de conhecer. O assassino, segundo a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), é o ex-policial Almir Monteiro dos Reis, 49 anos. Para os investigadores, o ex-agente de Segurança Pública teria matado a vítima para esconder a violência sexual contra a advogada.
Também entra para a contagem a cruel morte de Erivânia Nunes da Silva, de 43 anos. O corpo dela foi encontrado, no dia 10 de agosto, na zona rural de Dom Aquino (166 km ao sul de Cuiabá), em estado de decomposição. O companheiro dela, Givaldo Ribeiro de Almeida, conhecido como “Doa”, foi preso pela Polícia Civil de Jaciara (144 km ao sul de Cuiabá) e confessou o crime. Disse que agrediu a vítima com golpes de capacete e, após ela estar desmaiada, ele a estrangulou.
Montagem/Rdnews
Dieice Kelli Xavier da Silva, 27 anos, foi mais uma mulher morta ao tentar sair de um relacionamento. O corpo dela foi encontrado próximo a um rio de Colniza (1.043 de Cuiabá) e apresentava lesões no pescoço e tórax causadas por facadas. O companheiro dela, de 55 anos, foi preso suspeito de ter cometido o crime. Os investigadores descobriram que ele não aceitava o término da relação.
Outro caso ocorrido em agosto e que é tratado como feminicídio pela Polícia Civil é o de Leila Maria da Silva, 40 anos. Ela foi assassinada a facadas em 28 de agosto, em Tangará da Serra (240 km de Cuiabá). O autor seria seu ex-marido, Jefferson Luiz dos Santos, 43 anos, por não aceitar o fim do relacionamento. Homem tirou a própria vida após matar a ex-companheira.
Machismo e falta de leis mais duras
Rodinei Crescêncio/Arte/Rdnews
Defensora Rosana Leite avalia que as estatísticas são alarmantes e que demonstrama a necessidade da criação de leis mais duras para punir crimes
A defensora Rosana Leite não apenas enfatizou o problema, mas também apontou para um panorama mais amplo. As estatísticas alarmantes, segundo ela, revelam um cenário que demanda não apenas ações afirmativas, mas também a criação de leis que efetivamente conduzam a sociedade a um caminho de construção de um mundo mais seguro e igualitário para as mulheres.
A defensora expressou sua consternação ao observar que meninas e mulheres crescem em meio a um ambiente marcado por diversas formas de violência.
“Os agressores de mulheres estão mostrando a ‘face’ também no mês de agosto, e o faria e fazem em qualquer mês e circunstância. Claro, as estatísticas nos demonstram a necessidade de muito mais ações positivas e leis afirmativas que venham a construir juntamente com a sociedade, um mundo melhor para as mulheres serem livres realmente. É assustador ver que meninas e mulheres crescem e se desenvolvem envoltas a tantas violências. Só é possível pensar em um mundo melhor, se mudanças acontecerem”.
Gilberto Leite
Glaucia Amaral, presidente da Comissão dos Direitos das Mulheres da OAB-MT, cita necessidade de mais ações de conscientização e leis duras
Outra liderança feminina que falou sobre os crimes hediondos foi a procuradora e presidente da Comissão do Direito da Mulher da OAB-MT, Glaucia Amaral, avalia que a impunidade e o machismo são assuntos centrais que auxiliam no aumento dos casos.
“Essas campanhas de conscientização precisam ser mais efetivas. O agressor precisa saber que ele enfrentará a rigidez da lei, caso cometa um crime cruel assim . As mulheres também precisam saber que existe uma rede de proteção pra elas, caso elas estejam vivendo um relacionamento abusivo. A cultura do machismo também deve ser levada em consideração como uma das cousas deste crime”, apontou Glaucia.
Fonte: RD News