Rússia e Ucrânia: Economista alerta para impactos da guerra em Rondonópolis
Muito tem se falado do impacto dos fertilizantes, mas é o aumento do preço do barril de petróleo que pode impactar mais a vida dos brasileiros

Com uma guerra em andamento entre a Rússia e Ucrânia, envolvendo diversas sanções econômicas, uma das perguntas que começa a ser feita é: como Rondonópolis, Mato Grosso e o Brasil serão impactados economicamente? Muito tem se falado do impacto dos fertilizantes, mas é o aumento do preço do barril de petróleo que pode impactar mais a vida dos brasileiros. O doutor em Economia, professor de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), Luís Otávio Bau Macedo, explicou ao A TRIBUNA que Rondonópolis, assim como o Brasil, sentirá sim impactos econômicos em função do conflito na Europa Oriental entre Rússia e Ucrânia, mas esses impactos dependem de vários fatores e do tempo de duração da guerra.

Segundo Luís Otávio, um dos impactos ocorre em função do uso em larga escala dos fertilizantes em Mato Grosso, bem como nas unidades misturadoras em Rondonópolis. Ele explicou que a Rússia é responsável por cerca de 25% das importações de insumos para fertilizantes em Mato Grosso, mas é preciso compreender que as empresas misturadores ainda contam com estoque do produto e como o Estado não está em momento de plantio da soja, que acontece no segundo semestre do ano, é possível adequar a cadeia e passar a importar o fertilizante de outros países, pois há um tempo maior para que isso seja feito. Isso evitaria que ocorra a falta do fertilizante, porém o preço do produto deverá ser maior.
Somado ao aumento no custo do fertilizante, em se mantendo o conflito e as sanções econômicas aplicadas à Rússia, há a previsão de aumento ainda maior no preço do barril do petróleo, que até ontem (3), já havia ultrapassado U$ 111,00, o que gera um impacto maior nos custos da produção agrícola. “Para a próxima safra 2022/23, caso o conflito se mantenha, a previsão é de aumento nos custos para a produção e redução no valor de venda do produto, pois o dólar está retroagindo e com tendência de estabilização em um valor menor”, destacou o economista.
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No entanto, para o professor, o impacto maior que poderá ser sentido no país em função da guerra será ocasionado pelo aumento do preço dos combustíveis. Ele analisou que, caso o Governo Federal mantenha a política atual de preços da Petrobras, com este atrelado ao valor do barril no mercado externo, a tendência é de alta dos combustíveis internamente, o que irá ocasionar aumento da inflação e a manutenção ou crescimento dos juros.
“O Brasil é produtor de petróleo e pode agir mudando a política de preços da Petrobras para conter a alta dos combustíveis no mercado interno e, assim, conter a inflação. Mas, caso a política atual da equipe econômica do Governo Federal seja mantida, certamente, a inflação será maior que o 5,5% previsto para este ano. Aí teremos um agravamento da recessão”, exemplificou.
O economista acrescentou que, em caso de continuação da guerra, com aprofundamento das sanções econômicas à Rússia ou até com a possibilidade de a Rússia agir com retaliação e cortar o fornecimento de gás natural e petróleo para a Europa, a tendência do mercado é uma disparada no preço do barril do petróleo no mercado externo, podendo a chegar a U$ 140,00. “Neste cenário, se o governo brasileiro não mudar a política de preços da Petrobras, que atualmente somente gera lucro e dividendos para a empresa, a inflação poderá ser bem maior do que a projetada”, afirmou.
Além disso, há ainda a questão do aumento do preço do trigo, o que já está impactando no valor de produtos como pães e massas em geral. Como a Ucrânia é um dos maiores exportadores de trigo do mundo, com a guerra ocorre a redução da oferta do produto no mercado mundial, o que causa aumento no preço do produto. Mesmo que o Brasil importe a maior parte do trigo da Argentina, o impacto no preço é o mesmo.