O futuro de Rondonópolis: Expansão dos trilhos trará mesmo tantos impactos negativos?

A expansão da malha ferroviária no Estado, anunciada por Mauro Mendes, levantou debates sobre o futuro da economia de Rondonópolis.
O Governo de Mato Grosso anunciou, no decorrer desta semana que está terminando, o chamamento público para a construção da primeira ferrovia estadual que irá ligar Rondonópolis a Cuiabá, bem como Nova Mutum e Lucas do Rio Verde, passando por Primavera do Leste e Campo Verde, conectando Mato Grosso à malha ferroviária nacional.
A expansão da malha ferroviária no Estado levantou debates sobre o futuro da economia de Rondonópolis, já que atualmente o Terminal Intermodal da Rumo é o responsável pelo 1/3 do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade.
Para o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, o economista Alexsandro Silva, a expansão do modal ferroviário será bastante positiva para Mato Grosso e também para Rondonópolis.
Mesmo que impactos sejam sentidos na cidade, ele destaca que Rondonópolis permanecerá sendo referência para novos investimentos, pois a cidade se destaca na análise econômica financeira entre os municípios do interior do Estado, por vários fatores, como melhor infraestrutura na área de saneamento, pelo potencial logístico, com mais de 700 transportadoras instaladas na cidade, com uma frota de mais de 9 mil caminhões, pela existência do maior terminal intermodal da América Latina. “Esses fatores contribuem para atração de novos investimentos, favorece o crescimento da indústria e de outros setores”.
Segundo ele, hoje mais da metade da produção agrícola do médio norte já é escoada pelo arco norte do País pelos custos menores, e isso impacta na cidade, mesmo assim o Município se mantém como maior exportador do Estado. “O que é importante para Rondonópolis é trabalhar para fortalecer outras atividades, mudar a nossa matriz econômica. Nós não somos mais tão dependentes assim do setor agropecuário. Hoje, a economia da cidade se sustenta basicamente com o setor de serviços, construção civil e transportes. O potencial logístico de Rondonópolis é enorme e isso favorece investimentos no setor industrial. A cidade precisa trabalhar na ampliação do parque industrial e instalar o parque tecnológico e de inovação e isso já vem sendo buscado”, explicou o secretário.
O secretário pondera que a ferrovia significa muito para a cidade, pois representa mais de 1/3 da arrecadação municipal, e continuará tendo um papel importante. “Temos que pensar também que a ferrovia continuará sendo um atrativo a mais para Rondonópolis na vinda de novas empresas. Isso continuará sendo um diferencial competitivo para a atração de investimentos. Temos que pensar num todo e a economia de Mato Grosso se beneficiará muito com a expansão da malha ferroviária. A produção do Estado também deve crescer em torno de 30% nos próximos anos e é preciso de outras alternativas de escoamento, pois Rondonópolis sozinha já não daria conta.O desenvolvimento de outras regiões do Estado beneficia Mato Grosso como um todo e Rondonópolis juntamente”, analisou.
Alexsandro Silva destacou que, atualmente, o Poder Público vem trabalhando justamente para fortalecer a diversificação econômica de Rondonópolis. Representando a Prefeitura, o secretário afirmou que estão marcados encontros com novos grupos de investidores neste mês de agosto em Santa Catarina, nas cidades de Chapecó e Joinville, em São Paulo e no Paraná, nas cidades de Curitiba e Maringá.
Também já há um trabalho em andamento em Lucas do Rio Verde e Nova Mutum para a vinda de uma usina de etanol de milho para a cidade. “O Município está atuando em busca de novos investimentos em vários setores. Esse é o caminho para Rondonópolis”, completou o secretário.
DIVERSIDADE NA ECONOMIA

Para o economista Luiz Otávio Bau, os impactos já estão sendo sentidos, com a redução da participação da rota de exportação pelo porto de Santos (SP). O escoamento pelo arco norte já é uma realidade e vai se intensificar com a expansão da ferrovia para o norte e a construção de uma nova ferrovia ligando Lucas do Rio Verde à ferrovia norte-sul.
Ele reforçou que hoje, em torno de um terço do valor adicionado de Rondonópolis é oriundo do terminal. Portanto, pode ser esperada a queda da participação do município no cálculo do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e a redução com a arrecadação com o ISSQN.
A solução, de acordo com o economista, é o município adotar uma estratégia de diversificação produtiva baseada em atividades que adicionem valor à produção primária de Mato Grosso.

“Usar a infraestrutura de escoamento já existente para expandir as atividades industriais e de serviços. Bioinsumos e serviços sofisticados para a agropecuária seria uma alternativa. O beneficiamento do algodão em pluma (indústria têxtil), o etanol de milho e a criação de um polo de silvicultura (floresta nativa e exótica) para celulose também. Por fim, Rondonópolis poderia se tornar um polo de saúde para o meio-norte brasileiro em certas especialidades complexas (câncer, transplantes etc) e educação universitária de excelência. Oportunidades não faltam, mas é necessário planejamento agora”, finalizou.