ALERTA VELOCIDADE 2X – Áudios e vídeos acelerados geram cansaço e atrapalham a saúde mental, diz médica VEJA
A psiquiatra Maria Eduarda de Musis explica sobre os prejuízos do consumo acelerado de conteúdos digitais

os últimos anos, a forma como consumimos conteúdo digital tem passado por transformações cada vez mais rápidas. Com o aumento do ritmo acelerado da vida moderna e a constante busca por eficiência, muitos usuários têm adotado a prática de ouvir áudios e assistir vídeos em velocidades aumentadas.
A prática chegou até nas plataformas de conteúdos de entretenimento, como o Youtube e a Netflix, que são usualmente utilizadas nos momentos de descanso.
Essa ideia de acelerar tudo pode impactar na saúde mental de um indivíduo, inclusive gerando ansiedade, conforme explica a psiquiatra Maria Eduarda de Musis. “Acelerando você só ganha tempo, mas perde todo o resto”, diz.
Se antes as pessoas tinham o hábito de consumir podcasts, audiolivros e vídeos no ritmo original, agora é cada vez mais comum ver pessoas ajustando a velocidade para 1,5x ou 2x. Agora, até streaming de filmes e séries, como a Netflix, possuem essa ferramenta – e há quem use para acelerar os momentos de prazer – e por consequência, perder parte dele.
“Vivemos em um mundo muito corrido, de trabalho, estudos. Muita coisa vem para facilitar. Conseguir ouvir um áudio de trabalho acelerado pode ser interessante, pode ajudar, mas temos que saber diferenciar as coisas. Por exemplo: se você vai assistir um filme na Netflix, por que acelerar? Não é para ser um momento prazeroso? Para estar curtindo um momento de lazer? Então, neste momento, escute na velocidade normal, absorva o sentimento. Porque quando a gente acelera, perdemos muito da emoção que a pessoa está passando”, afirma a especialista.
Essa tendência, embora pareça ser uma solução prática para otimizar o tempo, traz consigo uma série de implicações para a cognição e bem-estar. O ato de acelerar o consumo de mídia pode impactar negativamente na capacidade de compreensão e retenção de informações, alerta a especialista.
“Acelerando os áudios conseguimos ganhar tempo, só não podemos esquecer do que perdemos: as trocas das relações interpessoais, a voz original da pessoa, como ela está expressando seu sentimento no tom de voz, a escuta, a informação por completo”
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Maria Eduarda de Musis, psiquiatra
“Não podemos ser hipócritas e falar que não ajuda. Ajuda no trabalho, você vai ouvir o áudio de um colega sobre o trabalho, vai entender o que ele quer te passar; se for uma tarefa que você tem que cumprir, você consegue executar. Mas ouvir um áudio da sua mãe, do seu filho, do seu esposo ou esposa, por que ouvir acelerado? Ouvir um audiolivro de entretenimento, ou mesmo de estudo, precisa da atenção plena. Acho importante saber diferenciar”, pontua.
Estudos recentes sugerem que a exposição prolongada a conteúdos acelerados pode prejudicar a capacidade de processar e refletir sobre as informações de maneira profunda. Além disso, o ritmo acelerado pode contribuir para um aumento da ansiedade e da sensação de sobrecarga, à medida que os indivíduos tentam acompanhar o fluxo incessante de informações em velocidade máxima.
Conforme explica a psiquiatra, o uso da velocidade aumentada pode contribuir para um estado de agitação constante e tensão emocional.
“Acaba causando uma impaciência para a velocidade normal, ficamos impacientes. Sem contar que, nas pessoas mais ansiosas, dá aquela angústia de estar ouvindo acelerado. O que de fato queremos acelerar? Acelerando os áudios conseguimos ganhar tempo, só não podemos esquecer do que perdemos: as trocas das relações interpessoais, a voz original da pessoa, como ela está expressando seu sentimento no tom de voz, a escuta, a informação por completo”, ressalta.
Além disso, a sequência rápida de informações pode sobrecarregar o cérebro, dificultando a absorção e o processamento adequado do conteúdo consumido, implicando em uma compreensão superficial, sem as reflexões necessárias. Isso impacta nos resultados dos estudos para quem faz uso do recurso nesses momentos, já que a habilidade de absorver e reter informações de maneira eficaz acaba sendo comprometida. Na prática, Maria Eduarda explica que o comportamento pode aumentar os níveis de ansiedade e estresse durante essas atividades, e caso se torne corriqueira, durante toda a rotina do indivíduo.
“No fim das contas, isso deixa a gente mais cansado. Já não basta o dia exaustivo que passa tão rápido, ainda estamos perdendo as possibilidades de pausa, de respirar, tomar um fôlego. Não podemos generalizar, a vida já é acelerada demais. Só ganhamos tempo, mas acabamos perdendo muita coisa”, conclui.