TEMPO SECO – Doenças respiratórias sobrecarregam UTIs pediátricas; ocupação de 90% em MT
Período de seca faz com que os vírus se alastrem e provoquem maior contaminação dos pequenos, que são mais vulneráveis

Ao menos 90% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em alas pediátricas estão ocupados em Mato Grosso. Com o aumento de casos de doenças respiratórias em crianças nesta época do ano, os sistemas de saúde ficam ainda mais pressionados para atender a todas as demandas. Especialistas alertam para manter o esquema vacinal dos pequenos e continuar com as medidas de biossegurança, para evitar o colapso dos hospitais.
De acordo com a secretaria de Estado de Saúde (SES-MT), as taxas de ocupação de leitos de UTI pediátrica e neonatal são monitoradas diariamente. Normalmente, a taxa de ocupação costuma ser dinâmica. Em dados atuais, a média está em 90%.
Nesta época do ano – e também com o relaxamento das medidas preventivas -, diversos estados têm vivenciado um caos na saúde pública, provocado pelo aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças de até 11 anos.
Em Pernambuco, por exemplo, a fila por um leito de UTI pediátrica e neonatal chegou a ter 90 crianças. A InfoGripe revela que, desde o início do ano, o país registrou 35.603 casos de SRAG em crianças de 0 a 11 anos, número 43,1% maior que no mesmo período de 2021, quando notificou 24.878 ocorrências. Do total, 21.049 ocorreram entre o público de até 4 anos de idade.
Dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgados no boletim de quarta (1), demonstram que entre as crianças de 0-4 anos, o aumento nos casos de SRAG foi marcado por aumento nos casos positivos para vírus sincicial respiratório (VSR) e leve aumento nos casos de rinovírus e metapneumovírus, além da presença de covid-19, que vem aumentando nas semanas recentes acompanhando a tendência da população adulta.
“Já grupo de 5-11 anos observa-se sinal de interrupção de queda nos resultados positivos para SARS-CoV-2 na segunda quinzena de fevereiro, e aumento na detecção de outros vírus respiratórios no mês de março, com predomínio de positivos para rinovírus”, diz trecho da publicação.
A baixa cobertura vacinal entre as crianças de 5 a 11 anos levou o Centro de Operações em Emergência em Saúde Pública (COE-MT) a recomendar a utilização de máscaras nas escolas de Mato Grosso. Segundo os dados, apenas 16% do público infantil está com o esquema vacinal completo e tomou as duas doses recomendadas.
Além disso, os dados oficiais confirmam que 64% das crianças aptas a serem vacinadas não tomaram nenhuma dose e 36% a primeira dose.
Ilustração
Baixa vacinação
“O retorno das atividades e um relaxamento nas ações de combate da covid-19, a gente já esperava que tivéssemos esse aumento de outras doenças virais, não só a covid-19”
Destaca a virologista Ana Claudia Pereira
Conforme a médica virologista Ana Cláudia Pereira, esta época do ano de seca tem o costume de aumentar os casos de doenças respiratórias, seja a covid-19 ou gripes. “No período da seca, que vai até outubro, a gente vivencia esses aumentos, porquê os vírus que são os principais causadores das doenças, eles estão carreados, então conseguem se espalhar com mais facilidade no ambiente seco”, explica.
As crianças geralmente tendem a ser um grupo de risco, pois apresentam a imunidade menor. Portanto, a contaminação entre elas se propaga mais facilmente. Com a volta às atividades escolares presenciais e relaxamento do uso de máscaras, consequentemente os casos voltaram a subir.
“A gente já esperava que tivéssemos esse aumento de outras doenças virais, não só a covid-19, porque as medidas preventivas de higiene, limpeza e uso de máscara não prevenia só a covid, prevenia todas as outras doenças respiratórias que nós temos”, pontuou a virologista.
Vacinação é primordial
Arquivo pessoal
Além disso, a vacinação de crianças contra a covid-19 e influenza é primordial. O problema é que o movimento antivacina, impulsionado por questões políticas, fez com que muitos pais ou responsáveis evitassem imunizar os próprios filhos.
Logo, com menos crianças vacinadas, o vírus se espalha mais, levando a sintomas mais graves e até mesmo internação. Com os leitos lotados, é preciso prevenir.
“Se os pais fizerem uma adesão adequada à vacinação contra influenza e covid, reduz o risco de se ter uma doença respiratória mais grave, já que vai curar mais rapidinho, sem medo de uma internação”, orienta a especialista.
Fonte: RD News